domingo, 18 de janeiro de 2009

Como matar um Wildcat?



Na década de 1990, os quadrinhos da Marvel estavam com a bola toda, com desenhistas superstars como Jim Lee, Todd McFarlene e Marc Silvestri. Seus desenhos super-estilizados, uma novidade para a época (mas que logo se transformariam no estereótipo do machão musculoso e da heroína gostosona) faziam certos títulos chegarem à tiragem de milhões (como a famosa mini-série dos X-Men de Jim Lee), e o que eles ganhavam com isso? Salários de desenhistas, nada mais. Nenhuma porcentagem das vendas, nenhum direito sobre personagens criados por eles. Revoltados – e olhando uma mina de dinheiro à frente – os tais desenhistas-estrelas criaram a Image Comics em 1992, editora na qual cada um teria os direitos de suas criações.

Na época de sua criação, a Image Comics nada mais era do que uma cópia das editoras Marvel e DC, com super-heróis no mesmo estilo, alguns grosseiramente copiados. Um grupo destes super-heróis se chamava WildC.A.T.s, criados por Jim Lee, e como todos os outros, era cheio de fortões e gostosonas, sem nada a acrescentar à cultura de ninguém. Essa foi a imagem dos Wildcats que ficou na minha cabeça, por isso nunca tive muito interesse em acompanhar a série. Porém, acho que todo ser tem em si a possibilidade de evoluir – não vê os Beatles, de boys band à maior banda de rock da história? – e visitando fóruns na internet li comentários muito elogiosos a respeito do que os Wildcats haviam se tornado. A informação que recebi foi que um arco havia sido escrito até por Alan Moore, ou seja, Deus – isso não é pouca coisa. Depois dessa, com certeza alguma coisa havia mudado, e isso ficou na minha cabeça.

Certo dia, forçado a uma viagem de ônibus imprevista, sem tempo para preparar o livrinho para ler durante o trajeto, entrei numa banca para pegar alguma coisa que me distraísse – odeio viagens de ônibus! – e me deparei com dezenas de gibis da Panini, daqueles de super-herói com quatro estórias no miolo, três medíocres e uma razoável, todas já iniciadas em outras edições e com o clássico “continua” no final. Já estava preparado para comprar qualquer porcaria melhor do que isso, talvez até aqueles livrinhos eróticos com casais seminus na capa, quando encontrei enterrada no fundo da banca uma edição encadernada de Wildcats, com o selo da quase finada editora Pixel Media – que não costuma publicar besteiróis americanos – e me salvei de algumas horas de tédio infernal.

Realmente tive uma surpresa e pude comprovar como mudou a orientação das estórias destes personagens. Para começar, os direitos dos Wildcats já não pertencem mais à Image (há muitos anos, por sinal, mas eu nunca havia me interessado em saber sobre isso), foram vendidos para a Wildstorm. A revista em questão se chama “Como matar um Wildcat”, reunindo varias estórias em 160 páginas. Ainda existem reminiscências de quadrinho-espetáculo em algumas partes, mas a maioria da revista é composta por desenhos sombrios e crus, e os temas são mais adultos do que pura pancadaria. A trama é muito interessante, e mesmo eu, que não conhecia quase nada sobre nenhum personagem, pude entender o que se passava.

A primeira estória é independente das outras, sobre um personagem chamado Warblade em busca de vingança contra um vilão que matou sua namorada. Desenhos razoáveis de Carlos Meglia (quem?), e roteiro dispensável de Scott Lodbell, nada mais. A trama principal do volume começa mesmo na segunda estória. O grupo original se desfez, e um mistério a respeito do chefe do grupo faz com que alguns deste antigos heróis suspeitem estar sendo manipulados e enganados e se juntem para descobrir a verdade. Uma trama muito bem-feita, com personagens bem caracterizados e um final que aparentemente redefine os rumos do grupo. Bom roteiro de Joe Casey e desenhos estilizados e justos de Sean Phillips. No meio da revista tem também outra estória da fase besteirol americano, tipo um interlúdio sem motivo algum e sem nenhuma ligação com a trama principal, mas nada demais, é só pular algumas páginas.

Terminando a leitura de “Como matar um Wildcat” dá vontade de comprar o próximo volume encadernado, mas pelas notícias que temos sobre a Pixel Media, infelizmente creio que vou ficar só na vontade mesmo, até que outra editora adquira os direitos sobre o grupo. Mas este ainda dá pra encontrar em algumas bancas ou livrarias, já que foi lançado há cerca de dois meses. Mas tem que contar com a sorte, pois a distribuição dos quadrinhos da Pixel não é das melhores (rola uma história de que uma certa distribuidora que monopoliza o mercado paga e até ameaça jornaleiros para ter destaque em seus títulos e para que os títulos de outras distribuidoras sejam escondidos nos cantos das bancas. Apesar dos fatos indicarem a veracidade desta história, por enquanto é só uma lenda urbana, e assunto para outro post, talvez). Os Wildcats mudaram, e pelo que acompanho dos quadrinhos americanos a Image também – a editora perdeu os direitos de talvez todos os personagens de sua fase inicial, e hoje aparentemente seus títulos são mais sérios, com temática adulta. Um brinde à evolução!

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